Antigas Praias Marcianas Revelam Evidências de Oceanos no Planeta Vermelho

Antigas Praias Marcianas Revelam Evidências de Oceanos no Planeta Vermelho

Crédito: Pixabay

Marte, frequentemente descrito como um deserto seco, poeirento e estéril, foi outrora abundante em água, contendo mesmo oceanos, de acordo com um estudo recente.

Radar de penetração no solo revela provas de praias marcianas

Utilizando um radar de penetração no solo, os investigadores descobriram caraterísticas subterrâneas que se assemelham a praias, indicando que Marte albergou um mar setentrional há 4 mil milhões de anos. Esta é uma das provas mais fortes que apoiam a ideia de que Marte já teve vastas massas de água.

A equipa de investigação chamou a este antigo mar “Deuteronilus”.

O geólogo Benjamin Cardenas, da Universidade Estatal da Pensilvânia, explica: “Identificámos áreas em Marte que se assemelham a antigas praias e deltas de rios. Encontrámos sinais de vento, ondas e muita areia – como uma verdadeira praia que se visita nas férias”.

O mistério permanente da história da água em Marte

Compreender a história da água em Marte continua a ser um mistério difícil. À superfície, o planeta parece seco e inóspito, coberto de tempestades globais de poeira, levando a crer que Marte sempre foi uma rocha árida e seca. No entanto, cada vez mais provas mostram que, em tempos, a água líquida correu abundantemente pela sua superfície. Além disso, esta descoberta reforça a ideia de que o planeta tinha condições para sustentar grandes quantidades de água.

Embora seja evidente que em tempos existiu água em Marte, continuam a existir questões sobre a quantidade de água existente, quando desapareceu e para onde foi. Além disso, os cientistas estão a trabalhar para compreender a cronologia do seu desaparecimento e para descobrir os factores que contribuíram para a sua perda.

Michael Manga, geofísico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, destaca a importância dos oceanos, afirmando: “Os oceanos desempenham um papel crucial nos planetas. Têm impacto no clima, moldam as superfícies planetárias e podem criar ambientes potencialmente habitáveis”.

Com isto em mente, os cientistas estão ansiosos por explorar a história da água em Marte para compreender o seu potencial para vida passada.

Dados do Mars Rover Zhurong revelam novos conhecimentos

As descobertas foram possíveis graças aos dados do rover Zhurong Mars da Administração Espacial Nacional Chinesa (CNSA). Uma equipa de investigação sino-americana, liderada pelo engenheiro Jianhui Li e pelo geólogo Hai Liu, da Universidade de Guangzhou, deu mais informações sobre a questão da água em Marte, revelando que havia líquido suficiente para encher um oceano.

Uma ilustração que representa um hipotético oceano em Marte. A estrela laranja representa o local de aterragem de Zhurong e a estrela amarela é o local de aterragem de Perseverance. (Robert Citron)

Durante a sua viagem através da Utopia Planitia, o Zhurong utilizou um radar de penetração no solo (GPR) para medir a superfície marciana até 80 metros (260 pés) de profundidade. Esta tecnologia envia ondas de rádio para o interior do solo e analisa a forma como estas são reflectidas por materiais de diferentes densidades, criando um mapa 3D das estruturas subterrâneas.

Estudos anteriores utilizando dados do Zhurong sugeriram a presença de uma linha costeira, mas as provas não eram conclusivas. No entanto, os dados do GPR revelaram agora camadas espessas de material ao longo do percurso do Zhurong, que se inclinam para cima em direção a uma suposta linha costeira num ângulo de 15 graus – semelhante a antigas linhas costeiras na Terra.

Manga comenta: “As estruturas não se assemelham a dunas de areia, crateras de impacto ou fluxos de lava. Foi nessa altura que começámos a pensar nos oceanos”.

Evidência de ondas, marés e um ciclo da água em Marte

O alinhamento e a inclinação destas caraterísticas apoiam ainda mais a teoria de um oceano de longa duração, onde depósitos de areia semelhantes a praias se acumularam ao longo do tempo. Isto sugere que Marte teve um ciclo de água durante milhões de anos, semelhante ao da Terra, com ondas, marés e rios a transportarem sedimentos para a costa.

“O tamanho da massa de água determina a intensidade das marés”, diz Manga. “Com massas de água maiores, as marés e as ondas tornam-se mais pronunciadas, moldando as praias.”

Um esquema que mostra o processo oceânico que poderia ter esculpido o terreno no local de aterragem de Zhurong. (Li et al., PNAS, 2025)

Embora Marte não tenha a Lua da Terra – responsável pelas forças de maré da Terra – a influência solar e o vento podem também ter desempenhado um papel nas marés e ondas marcianas, tal como nos oceanos da Terra.

A descoberta reforça a hipótese de Marte ter tido em tempos condições adequadas à vida, sugerindo que pode ter sido um ambiente habitável num passado distante. É também um local prometedor para futuras explorações em busca de sinais de vida antiga no Planeta Vermelho.

Manga refere: “Os ambientes costeiros onde a água, a terra e a atmosfera se encontram são habitats potenciais. Identificar onde e quando estes ambientes existiram pode orientar os nossos esforços de exploração”.

Linhas costeiras: Uma área chave de procura de provas de vida

As linhas costeiras são consideradas locais privilegiados para procurar vida passada, uma vez que se pensa que regiões semelhantes na Terra foram onde a vida surgiu pela primeira vez, onde a água e o ar se encontram.

Um gráfico que demonstra como as camadas de sedimentos são depositadas nas praias da Terra. (Hai Liu, Universidade de Guangzhou, China)

Investigações recentes da equipa de Manga sugerem que grande parte da água de Marte pode ter sido absorvida pelo seu interior, onde pode ainda residir em vastos reservatórios líquidos escondidos. Esta nova descoberta pode ser uma peça chave para resolver o mistério do passado rico em água de Marte.

O próximo passo é investigar mais aprofundadamente a ideia de oceanos líquidos em Marte e modelar a forma como essas antigas ondas e marés poderiam ter funcionado.


Leia o Artigo Original: New Atlas

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