Há quase 300 Anos que não Compreendemos uma Lei Fundamental da Física
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Crédito: Pixabay
Quando Isaac Newton escreveu as suas famosas leis do movimento em 1687, provavelmente nunca imaginou que mais de 300 anos depois ainda suscitariam debate. Escrevendo em latim, delineou três princípios fundamentais que regem o movimento no universo. Ao longo dos séculos, os académicos traduziram-nos, analisaram-nos e debateram-nos extensivamente.
No entanto, o filósofo da linguagem e da matemática Daniel Hoek, da Virginia Tech, argumenta que podemos ter estado sempre a interpretar mal a primeira lei do movimento de Newton devido a um erro de tradução do original latino.
A primeira tradução inglesa dos Principia, publicada em 1729, introduziu um erro de tradução subtil mas crucial. Como resultado, inúmeros académicos e educadores ensinaram durante muito tempo que um objeto em movimento permanece em linha reta ou em repouso, a não ser que seja influenciado por uma força externa.
À primeira vista, esta explicação faz sentido. Mas Newton compreendeu que as forças externas – gravidade, fricção, resistência do ar – estão sempre presentes. Revisitando o texto original, Hoek reparou que uma palavra latina chave, quatenus, que significa “na medida em que” em vez de “a menos que”, tinha sido mal interpretada.
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Cópia do próprio Newton de Principia com as suas correcções manuscritas para a segunda edição, hoje guardada na Biblioteca Wren do Trinity College, Cambridge. (Isaac Newton/CC0/Wikimedia Commons)
Porque é que uma palavra muda tudo
Hoek defende que o significado pretendido por Newton não era sobre a forma como os objetos se movem na ausência de força — uma vez que tal condição não existe na realidade. Em vez disso, Newton estava a explicar que toda a mudança no movimento — cada solavanco, curva e aceleração — se deve a forças externas.
Esta correção foi notada pela primeira vez em 1999, mas nunca ganhou grande atenção. Como explica Hoek, alguns rejeitam o seu argumento por o considerarem demasiado radical, enquanto outros o consideram tão obviamente correcto que quase não necessita de defesa.
Embora esta reinterpretação não altere a física, esclarece a intenção de Newton. O próprio Newton ilustrou a sua primeira lei utilizando exemplos como um pião, que abranda em espiral devido à resistência do ar. Segundo Hoek, este exemplo prova que Newton aplicou a lei a condições do mundo real, onde as forças estão sempre presentes.
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A Estação Espacial Internacional viaja numa órbita curva devido à gravidade da Terra. (3DScultor/Canva)
A leitura revista de Hoek reforça a ideia revolucionária de Newton: que as mesmas leis físicas que governam o movimento na Terra também se aplicam aos planetas, estrelas e galáxias. Cada alteração na velocidade, cada curva na trajetória — dos átomos a galáxias inteiras — segue a Primeira Lei de Newton, lembrando-nos que estamos todos ligados aos mesmos princípios fundamentais do universo.
Leia o Artigo Original: Science Alert
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