Produtos Perfumados Causam Poluição do Ar Interior Igual à dos Exaustores dos Automóveis

Produtos Perfumados Causam Poluição do Ar Interior Igual à dos Exaustores dos Automóveis

Crédito: Pixabay

De acordo com um novo estudo, a utilização de produtos perfumados dentro de casa altera a química do ar, gerando tanta poluição como os gases de escape dos automóveis no exterior. Os investigadores alertam para o facto de a inalação destas partículas minúsculas poder ter consequências graves para a saúde.

Poluição do ar interior causada por objectos domésticos comuns

Quando ouve ou pensa em “poluição do ar”, é provável que a associe a coisas como fábricas e gases de escape de automóveis. Essa é a poluição que está lá fora – fora da sua casa. Mas já pensou em como pode estar a contribuir para a poluição do ar interior no seu próprio espaço habitacional ao utilizar produtos aparentemente inofensivos como velas perfumadas e não inflamáveis?

Uma nova investigação da Universidade de Purdue, que faz parte de uma série de estudos liderados por Purdue, examinou a forma como os produtos perfumados – neste caso, as velas sem chama – são uma fonte significativa de partículas nanométricas suficientemente pequenas para penetrarem profundamente nos pulmões, pondo potencialmente em risco a saúde respiratória.

“Uma floresta é um ambiente imaculado, mas se estiver a utilizar produtos de limpeza e aromaterapia cheios de aromas fabricados quimicamente para recriar uma floresta em sua casa, está na realidade a criar uma enorme quantidade de poluição do ar interior que não deveria estar a respirar”, disse Nusrat Jung, professor assistente na Escola Lyles de Engenharia Civil e de Construção de Purdue e coautor do estudo.

Cera perfumada derretida e nanopartículas: Um olhar mais atento

Os derretimentos de cera perfumados são comercializados como uma alternativa sem chama, sem fumo e não tóxica às velas tradicionais, uma forma mais segura de tornar a sua casa ou escritório com um cheiro agradável. Para avaliar a veracidade destas afirmações, os investigadores mediram exaustivamente as nanopartículas formadas quando aqueceram ceras derretidas na sua casa de testes com ventilação mecânica. A pequena casa é, na verdade, um laboratório de engenharia arquitetónica chamado Purdue Zero Energy Design Guidance for Engineers (zEDGE) lab. Concebida para testar a eficiência energética de um edifício maior, está repleta de sensores que monitorizam o impacto das actividades diárias na qualidade do ar interior.

“Para compreender a forma como as partículas transportadas pelo ar se formam dentro de casa, é necessário medir as nanopartículas mais pequenas – até um único nanómetro”, disse Brandon Boor, professor associado de engenharia civil em Purdue e o outro autor correspondente do estudo. “A esta escala, podemos observar as fases iniciais da formação de novas partículas, onde as fragrâncias reagem com o ozono para formar pequenos aglomerados moleculares”.

Estudos anteriores tinham mostrado aos investigadores que os terpenos – compostos aromáticos que dão às plantas e ervas o seu cheiro – desencadeavam a formação de novas nanopartículas quando libertados dos derretimentos e reagiam com o ozono atmosférico interior (O3). Descobriram que actividades como passar uma esfregona no chão com um agente de limpeza rico em terpenos, utilizar um ambientador com aroma a citrinos ou aplicar produtos de higiene pessoal perfumados, como desodorizantes, no interior da casa zEDGE, resultavam em emissões pulsantes de terpenos para o ar interior no espaço de cinco minutos. Por outro lado, a utilização de difusores de óleos essenciais ou o descasque de citrinos provocou um aumento mais gradual dos terpenos.

Aquecimento da cera perfumada e aumento da formação de nanopartículas

No estudo atual, o aquecimento da cera perfumada contribuiu significativamente para o número de novas partículas formadas no ar interior, especialmente as mais pequenas do que 100 nanómetros (nm). As concentrações atmosféricas resultantes foram superiores a um milhão de nanopartículas por centímetro cúbico (106 cm-3), o que é comparável às concentrações emitidas por velas acesas tradicionais (106 cm-3), fogões a gás (105-107 cm-3), motores a gasóleo (103-106 cm-3) e motores a gás natural (106-107 cm-3).

A concentração de nanopartículas formadas por cera perfumada derrete em comparação com outras fontes. Patra et al. 2025 CC BY-NC-ND 4.0

Os investigadores também examinaram as taxas de dose depositada no trato respiratório (RD), uma forma útil de estudar a poluição atmosférica que mede o número de partículas depositadas no trato respiratório ao longo do tempo. Descobriram que a nova formação de partículas desencadeada pela utilização de cera derretida perfumada em ambientes fechados produziu uma RD média para partículas de 1,18 a 100 nm de 29 mil milhões por minuto (2,9 x 1010 min-1), ou cerca de 483 milhões de partículas por segundo. A maioria das partículas formadas pela cera derretida perfumada depositou-se nas vias respiratórias superiores. O seu pequeno tamanho permite-lhes migrar entre as células e entrar na corrente sanguínea, podendo atingir órgãos como o cérebro.

A necessidade de mais investigação sobre os terpenos inalados

Os cientistas começaram a explorar o impacto da inalação de terpenos na saúde humana, mas ainda têm muito mais para descobrir, e só uma investigação mais aprofundada poderá revelar esses efeitos.
Para já, no entanto, as conclusões do estudo podem informar a conceção de edifícios e os sistemas de ventilação.

“A nossa investigação mostra que os produtos perfumados não são apenas fontes passivas de aromas agradáveis – alteram ativamente a química do ar interior, levando à formação de nanopartículas em concentrações que podem ter implicações significativas para a saúde”, afirmou Jung. “Devemos ter em conta estes processos na conceção e funcionamento dos edifícios e dos seus sistemas de AVAC [aquecimento, ventilação e ar condicionado] para reduzir a nossa exposição”, afirmou Jung.


Leia o Artigo Original: New Atlas

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