Primeira Evidência de Síndrome de Down em Neandertais Revelada por Ossos

Primeira Evidência de Síndrome de Down em Neandertais Revelada por Ossos

Em Espanha, os Neandertais, representados numa ilustração artística, cuidaram de uma criança com síndrome de Down, oferecendo informações sobre as suas práticas sociais. Crédito: MAURICIO ANTON/SCIENCE SOURCE

Numa descoberta inovadora, antropólogos que estudam restos mortais de Neandertais na caverna Cova Negra, em Espanha, descobriram um fragmento do crânio de uma criança que remonta a mais de 146 mil anos. A análise dos ossos do ouvido interno dentro do fragmento do crânio revelou anomalias consistentes com a síndrome de Down, marcando o caso mais antigo conhecido da doença na história da humanidade. Publicada na Science Advances, esta descoberta sugere que os Neandertais cuidavam de indivíduos com deficiência, desafiando percepções anteriores dos seus comportamentos sociais e destacando a sua capacidade de compaixão dentro das suas comunidades.

A descoberta recebeu elogios significativos de especialistas como Peter Steyger, “um neurocientista especializado em questões auditivas relacionadas à síndrome de Down”. Ele acredita que esta descoberta fornece “insights inestimáveis ​​sobre a sociedade Neandertal, mostrando um nível de complexidade social e cuidados anteriormente subestimados”. No geral, a presença de uma criança com síndrome de Down entre os Neandertais na Cova Negra sublinha a sua humanidade e desafia os estereótipos sobre as suas capacidades sociais, pintando um quadro mais matizado das vidas e interacções dos nossos antigos parentes.

Cuidado Neandertal e Dinâmica Social: Insights da Cova Negra

A descoberta na caverna Cova Negra, na Espanha, fornece evidências convincentes de uma criança neandertal com síndrome de Down, que remonta a mais de 146 mil anos. A análise do osso do ouvido interno revelou anomalias consistentes com a condição, sugerindo que os Neandertais cuidavam de indivíduos com deficiência nas suas comunidades. Mercedes Conde-Valverde, paleoantropóloga envolvida no estudo, pretende “confirmar esta descoberta através da análise de ADN, o que poderá solidificar ainda mais a compreensão da diversidade genética e dos comportamentos sociais dos Neandertais”.

As anomalias esqueléticas observadas, como estrutura menor do ouvido interno e outras formações complexas, implicam potenciais desafios para a comunicação e mobilidade da criança. Se estes efeitos espelhassem os observados em humanos modernos com síndrome de Down, a criança Neandertal pode ter tido dificuldades em interagir com o grupo e em gerir problemas de equilíbrio e vertigens. Apesar destes desafios, a criança sobreviveu até aos 6 anos de idade, sugerindo que os Neandertais provavelmente dedicaram recursos e cuidados significativos para apoiar membros vulneráveis ​​da sua sociedade.

Compaixão Neandertal e Apoio Comunitário

Esta descoberta ecoa insights arqueológicos anteriores sobre a compaixão e o apoio comunitário dos Neandertais. Por exemplo, “na caverna Shanidar, no Iraque, um homem de Neandertal viveu até uma idade avançada, apesar de deficiências como visão prejudicada, perda auditiva e um braço parcialmente amputado – condições que teriam exigido assistência considerável de outras pessoas”. Juntas, estas descobertas desafiam percepções ultrapassadas dos Neandertais como menos complexos socialmente, pintando um quadro mais rico da sua dinâmica familiar e comunitária em tempos pré-históricos.

Exames do ouvido interno de uma criança neandertal mostraram anomalias semelhantes às da síndrome de Down. Crédito: MERCEDES CONDE-VALVERDE ET AL.

A descoberta de uma criança Neandertal com síndrome de Down na Cova Negra desafia teorias anteriores sobre a razão pela qual os Neandertais cuidavam de membros vulneráveis ​​da sua sociedade. A pesquisadora principal, Mercedes Conde-Valverde, sugere que “os neandertais provavelmente cuidavam de seus membros deficientes por compaixão genuína, em vez de esperar benefícios futuros, como assistência recíproca ou compartilhamento de conhecimento”.

O estudo, apoiado pela arqueóloga Lorna Tilley, na Austrália, sublinha que os Neandertais valorizavam indivíduos de todas as faixas etárias. Centrando-se nos cuidados prestados a uma criança com síndrome de Down, a investigação destaca um aspecto compassivo da sociedade Neandertal que enriquece a nossa compreensão das suas interacções familiares e comunitárias.

Habilidades cognitivas e comportamento altruísta dos neandertais

A descoberta reforça ainda mais as evidências que apoiam a capacidade dos Neandertais de planeamento avançado e raciocínio abstrato. Segundo Tilley, “a capacidade de prestar cuidados indica uma série de habilidades cognitivas, incluindo a avaliação de situações, o planejamento do cuidado e a delegação de tarefas dentro do grupo”. Isso demonstra planejamento cognitivo e previsão significativos entre os Neandertais.

Além disso, ajudar as crianças pode trazer benefícios evolutivos, ao mesmo tempo que reflete um comportamento altruísta. April Nowell, arqueóloga da Universidade de Victoria, sugere que “ajudar a sobrevivência dos jovens contribui para a sobrevivência geral do grupo”. No entanto, ela enfatiza que “cuidar das crianças também pode resultar de laços emocionais e de compaixão, em vez de apenas considerações práticas de sobrevivência do grupo”.


Leia o Artigo Original: Science

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