Como é que Um Pequeno Feto Tem um Genoma 50 Vezes Maior do que o dos Humanos

Como é que Um Pequeno Feto Tem um Genoma 50 Vezes Maior do que o dos Humanos

Um pequeno feto, encontrado apenas em algumas ilhas do Pacífico, contém mais de 100 metros de ADN em cada célula, mais do que qualquer organismo conhecido. “O feto, conhecido como Tmesipteris oblanceolata, tem estruturas redondas que produzem esporos”, diz Oriane Hidalgo.
Um pequeno feto, encontrado apenas em algumas ilhas do Pacífico, contém mais de 100 metros de ADN em cada célula, mais do que qualquer organismo conhecido. “O feto, conhecido como Tmesipteris oblanceolata, tem estruturas redondas que produzem esporos”, diz Oriane Hidalgo.

Uma versão impressa de todo o genoma humano encheria 220 livros grandes. No entanto, para imprimir o genoma de um pequeno feto encontrado em algumas ilhas do Pacífico seriam necessários quase 11 000 livros.

Esta planta, denominada Tmesipteris oblanceolata, tem o maior genoma conhecido de qualquer organismo, tal como descoberto por Jaume Pellicer, do Instituto Botânico de Barcelona, em Espanha, e pela sua equipa.

Cada célula deste feto contém 321 mil milhões de letras (pares de bases) de ADN no seu núcleo. Se fossem dispostas em linha, estender-se-iam cerca de 105 metros. “Tanto quanto sabemos, é o maior”, diz Pellicer.

Desvendando os Gigantes Genómicos da Natureza: Explorando os Maiores Organismos do Mundo

Comparativamente, o núcleo de uma célula humana tem cerca de 6 mil milhões de pares de bases, ou aproximadamente 2 metros, de ADN – o que é cerca de 50 vezes menos do que o feto.

Antes desta descoberta, o maior genoma pertencia a uma planta japonesa chamada Paris japonica, com 298 mil milhões de pares de bases em cada núcleo, conforme relatado por Pellicer em 2010. O peixe pulmonado de mármore, Protopterus aethiopicus, detém o recorde do maior genoma animal conhecido, com 260 mil milhões de pares de bases por núcleo.

A T. oblanceolata é uma planta rara que se encontra apenas em algumas ilhas da Nova Caledónia e de Vanuatu, no sudoeste do Pacífico. Em 2023, Pellicer e a sua equipa recolheram amostras da Nova Caledónia.

Para determinar o tamanho do genoma do feto, isolaram os núcleos das células dos seus caules, utilizaram um corante fluorescente para corar o ADN no interior dos núcleos e, em seguida, mediram a intensidade da luz à medida que os núcleos se moviam sob um detetor de luz.

Gigantes genéticos: Compreender os Genomas das Plantas e a Sobrevivência Evolutiva

Pellicer explica porque é que algumas plantas têm genomas realmente grandes. Em primeiro lugar, ao contrário dos animais, que normalmente têm apenas dois conjuntos de cromossomas, muitas plantas têm mais conjuntos. A T. oblanceolata, por exemplo, tem oito conjuntos.

No entanto, ter mais conjuntos de cromossomas nem sempre significa um genoma grande. Pellicer diz que a principal razão para um genoma maciço é não controlar o crescimento de parasitas genéticos chamados transposons.

Os transposões são pedaços de ADN que se podem duplicar, fazendo com que os genomas cresçam rapidamente, a menos que os organismos os consigam parar ou eliminar o ADN extra. Muitos genomas, como o nosso, têm muitas sequências repetitivas criadas por transposões.

Ter um genoma enorme tem desvantagens. As células demoram mais tempo a dividir-se porque têm de copiar todo esse ADN de cada vez. As células também precisam de ser maiores para conter todo o ADN, e certas partes das plantas, como os poros nas folhas e caules, não podem reagir tão rapidamente às mudanças no ambiente quando são feitas de células maiores.

Pellicer considera que as plantas que não conseguem controlar os transposões e manter os seus genomas pequenos morrem frequentemente. É por isso que só as vemos em algumas famílias de plantas. A T. oblanceolata pode sobreviver porque enfrenta menos concorrência nas pequenas ilhas onde vive.

Decifrar as Fronteiras Genómicas: Desafios e Definições nos Estudos do Tamanho do Genoma

Os investigadores planeiam analisar apenas uma pequena parte do genoma do feto em vez de tentar estudar tudo. Pellicer diz que não têm o poder informático necessário para analisar um genoma tão grande e repetitivo.

Ryan Gregory, da Universidade de Guelph, no Canadá, considera excitante o facto de ainda estarmos a descobrir novos limites para o tamanho do ADN nas células. No entanto, há um debate sobre a forma de medir o tamanho do genoma. Alguns dizem que se deve basear no tamanho de um conjunto de cromossomas e não no ADN total de uma célula. Por essa medida, o peixe-pulmão marmoreado teria o maior genoma.

Muitos biólogos definem o tamanho do genoma com base no ADN das células do óvulo, do pólen ou do esperma, que é metade da quantidade existente nas células normais. Usando esta definição, o tamanho do genoma do T. oblanceolata seria de cerca de 160,45 mil milhões de pares de bases.


Leia o Artigo Original: NewScientist

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