Obesidade Previne ou Aumenta o Risco de Demência?
Várias organizações de defesa da demência recomendam a manutenção de um peso saudável para reduzir o risco de demência. No entanto, alguns estudos propuseram que a obesidade poderia potencialmente oferecer proteção contra a demência. O que é que a investigação científica revela sobre este assunto?
Inicialmente, a relação entre obesidade e demência parece forte, uma vez que a obesidade na meia-idade está associada a um maior risco de demência numa fase posterior da vida. No entanto, surgem complexidades. Apesar do aumento das taxas de obesidade, as taxas de demência no Ocidente diminuíram. Além disso, um “paradoxo da obesidade” sugere que a obesidade pode reduzir o risco de demência.
Abordar os Desafios da Causalidade com Dados Limitados
Determinar a causalidade é um desafio devido às limitações dos dados. Os ensaios aleatórios poderiam esclarecer, mas são impraticáveis e pouco éticos. Assim, os investigadores baseiam-se em estudos observacionais, que têm vieses como a causalidade inversa e a confusão.
Descobertas recentes destacam o papel da inteligência na infância. Uma menor inteligência na infância está correlacionada com um maior risco de obesidade e piores capacidades cognitivas na meia-idade. Por conseguinte, a ligação entre a obesidade na meia-idade e o declínio cognitivo pode ser influenciada pela inteligência na infância, o que realça a necessidade de uma compreensão diferenciada.
Então, como é que podemos resolver estes problemas de enviesamento? Uma abordagem inovadora é a realização de estudos de aleatorização mendeliana, frequentemente apelidados de “ensaio aleatório da natureza”.
Nestes estudos, os investigadores dividem uma grande população em dois grupos apenas com base no facto de possuírem um gene (ou genes) associado à obesidade. Uma vez que estes genes são herdados aleatoriamente, isto torna a população naturalmente aleatória em dois grupos equilibrados para todos os factores, exceto o estado de obesidade.
Embora não sem potenciais enviesamentos, quaisquer diferenças no risco de demência são atribuídas diretamente à obesidade.
Vários estudos, pelo menos dez, utilizaram este método para investigar se a obesidade influencia a doença de Alzheimer, a forma mais prevalente de demência. Apenas um estudo sugeriu a existência de uma ligação entre as duas doenças.
Assim, voltando à questão: será que a obesidade aumenta efetivamente o risco de demência? Como advertem os cientistas, a ausência de provas não implica provas de ausência. Por outras palavras, a falta de dados suficientes para confirmar a ligação não a refuta necessariamente.
A ciência progride gradualmente. Com a recolha contínua de dados e os avanços nas técnicas, acabará por surgir uma resposta mais definitiva a esta questão.
Entretanto, é prudente seguir os conselhos dos especialistas em demência e esforçar-se por manter um peso saudável. Ao fazê-lo, não só se reduz o risco de vários outros problemas de saúde significativos, como também se pode atenuar o risco de demência.
Leia O Artigo Original: Science Alert
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