O Grito Ultrassónico e Silencioso de uma Pequena Rã

O Grito Ultrassónico e Silencioso de uma Pequena Rã

Crédito: Pixabay
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A Mata Atlântica brasileira ressoa com os “gritos” agudos de um minúsculo anfíbio em perigo, um som até então despercebido pelos ouvidos humanos.

Pela primeira vez, os pesquisadores capturaram gravações de sapos sul-americanos emitindo gritos em frequências além da perceção humana, mas potencialmente perturbadoras para animais equipados com receptores adequados.

Dominância da Rã-de-Folha na Comunidade de Anfíbios da Floresta

A rã-de-folha (Haddadus binotatus) domina a população de anfíbios da floresta. Apesar de sua prevalência, essas rãs são diminutas, mesmo as maiores fêmeas mal atingem 64 milímetros de comprimento.

Incapazes de entrar em combate físico quando ameaçadas, recorrem à vocalização, emitindo um pedido de socorro ultrassónico como medida de defesa.

A rã-folha é endémica da Mata Atlântica brasileira. (Henrique Nogueira)
A rã-folha é endémica da Mata Atlântica brasileira. (Henrique Nogueira)

Se já se sabia que certas rãs vocalizavam para comunicar aflições, avisos e alarmes, estudos anteriores que apontavam para a sua capacidade de produzir ultra-sons foram agora confirmados por esta nova investigação.

Predadores de anfíbios, como morcegos, roedores e pequenos primatas, podem emitir e detetar sons nessas frequências, que estão além da audição humana“, explica o ecologista comportamental Ubiratã Ferreira Souza, da Universidade Estadual de Campina, no Brasil.

Potenciais Funções da Gama de Frequências do Pedido de Socorro

“Anossa hipótese é que o pedido de socorro pode ter como alvo alguns destes predadores, ou a ampla gama de frequências pode servir um objetivo generalista, destinado a dissuadir o maior número possível de potenciais ameaças.”

Esta vocalização faz parte de uma exibição defensiva mais ampla. A rã-das-folhas arqueia as costas, levanta o corpo dianteiro e abre bem a boca, parecendo preparar-se para soltar o grito penetrante, que acaba por ser emitido quando a rã fecha parcialmente a boca.

O grito de defesa do sapo da serapilheira. (Souza et al., 2024, ata ethologica)
O grito de defesa do sapo da serapilheira. (Souza et al., 2024, ata ethologica)

Enquanto os humanos conseguem perceber sons até cerca de 20 kilohertz, o software utilizado por Souza e a sua equipa para captar o pedido de socorro da rã detectou frequências que vão dos 7 aos 44 kilohertz.

Os pesquisadores acreditam que essa extensa gama de frequências, aliada à postura assertiva da rã, serve como um impedimento para uma ampla gama de predadores. Como outros sapos de diferentes regiões demonstraram vocalizações poderosas semelhantes, esse comportamento pode ser mais prevalente do que se pensava.

Diversidade de Anfíbios no Brasil e Possíveis Vocalizações Generalizadas

Como o Brasil possui a maior diversidade de anfíbios do mundo, com mais de 2.000 espécies descritas, é plausível que outros sapos também produzam sons dentro dessas frequências“, observa Mariana Retuci Pontes, ecóloga da Universidade Estadual de Campina.

Durante uma visita em janeiro de 2023 ao Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, Pontes observou um comportamento semelhante em outra espécie de sapo, embora não tenha conseguido confirmar a presença de uma faixa de frequência ultra-sônica no vídeo gravado.

Os pesquisadores reconhecem que os mecanismos exatos pelos quais esses chamados dissuadem os predadores ainda são incertos. Especulam que os chamamentos podem assustar diretamente os predadores ou atrair a atenção dos adversários naturais do predador.

Será possível que o chamamento tenha como objetivo atrair uma coruja, que depois teria como alvo uma cobra que se aproxima da rã como presa?” propõe Souza.


Leia O Artigo Original: Science Alert

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