Vida Resistente às Nuvens de Ácido de Vénus: Novas Descobertas
Embora Vénus possa parecer inóspito para nós, existe a possibilidade de certas formas de vida se adaptarem às suas condições. Uma investigação recente do MIT revela que os componentes essenciais da vida permanecem notavelmente estáveis em ácido sulfúrico altamente concentrado, que constitui as nuvens de Vénus.
Os primeiros autores de ficção científica conseguiram imaginar Vénus como um paraíso devido à sua espessa cobertura de nuvens. No entanto, os avanços da tecnologia depressa revelaram a dura realidade. Vénus é um planeta seco e abrasador, com temperaturas à superfície que chegam aos 464°C (867°F) – suficientemente quentes para liquefazer chumbo. A sua pressão atmosférica é semelhante a estar 900 metros abaixo do nível do mar.
Para além disso, a presença de nuvens de ácido sulfúrico e uma atmosfera sufocante composta por 96% de dióxido de carbono tornam as condições de vida em Vénus longe de serem desejáveis.
Enquanto muitos entusiastas da vida extraterrestre se concentram em corpos celestes como Marte ou em luas como Europa, Enceladus e Titã, Vénus tem vindo a ganhar atenção nos últimos anos.
Os cientistas acreditam que as condições se tornam mais propícias a altitudes entre 48 e 60 km (30 e 37 milhas) acima da superfície do planeta, onde as temperaturas e pressões baixam e a água se torna mais abundante.
As Manchas Escuras das Nuvens de Vénus assemelham-se a Bactérias Terrestres
Curiosamente, estas manchas escuras foram observadas a flutuar nas nuvens de Vénus à mesma altitude, apresentando características ópticas semelhantes a certas espécies de bactérias identificadas na Terra.
No entanto, um obstáculo significativo que a vida pode encontrar neste refúgio aéreo é a presença de nuvens de ácido sulfúrico. Estudos anteriores sugeriram que outras partículas transportadas pelo ar poderiam proteger estas nuvens, mas um estudo recente indica que os micróbios podem não necessitar de tal proteção e podem potencialmente prosperar enquanto flutuam no ácido sulfúrico.
Uma equipa de investigação do MIT submeteu todos os 20 aminoácidos “biogénicos”, que são químicos fundamentais para a vida tal como a entendemos, a concentrações de ácido sulfúrico que variam entre 81% e 98% – níveis semelhantes aos encontrados nas nuvens venusianas.
Surpreendentemente, 19 destes aminoácidos permaneceram estáveis mesmo nas concentrações mais elevadas, com as suas estruturas moleculares intactas ao longo das quatro semanas de experiência. O estudo foi concluído neste ponto, pois não havia mais sinais de atividade química.
Insights da Autora do Estudo Sara Seager sobre as Implicações para a Vida nas Nuvens de Vénus
“Estamos a descobrir que os blocos de construção básicos da vida na Terra podem suportar o ácido sulfúrico, o que é altamente intrigante para considerar a possibilidade de vida em Vénus”, comentou Sara Seager, uma das autoras do estudo. “Isto não significa que a vida em Vénus se assemelhe à vida na Terra. De facto, sabemos que não é possível. No entanto, esta investigação sugere que as nuvens de Vénus podem albergar químicos complexos necessários à vida”.
Os aminoácidos não são os únicos constituintes da vida que demonstraram resistência ao ácido sulfúrico; a equipa demonstrou anteriormente que certos ácidos gordos e ácidos nucleicos também apresentam uma estabilidade semelhante.
No entanto, os investigadores são cautelosos ao distinguir entre química orgânica complexa e vida real, afirmando que, embora os ingredientes para a vida possam sobreviver em tais ambientes, permanece incerto se estão realmente presentes, e muito menos se evoluíram para formas de vida.
Os investigadores também reconhecem que simularam uma química atmosférica menos complexa nos seus testes de laboratório em comparação com as condições reais em Vénus.
Implicações da Investigação Recente sobre o Potencial de Vida em Vénus
Esta investigação acrescenta algum apoio ao debate em curso sobre o potencial de vida em Vénus, mas infelizmente, as provas ainda parecem favorecer o ponto de vista oposto.
Uma das descobertas mais intrigantes ocorreu em 2020, quando os astrónomos detectaram fosfina na atmosfera venusiana, um composto raro tipicamente associado a micróbios anaeróbicos na Terra.
No entanto, estudos posteriores sugeriram que a assinatura detectada era provavelmente atribuída ao dióxido de enxofre comum. Além disso, Vénus parece ter pouca água e não tem outras bioassinaturas esperadas.
Apesar disso, a certeza pode estar no horizonte. A próxima missão Venus Life Finder tem como objetivo enviar uma nave espacial para investigar as nuvens ácidas em busca de sinais de vida e o seu lançamento está previsto para o final de 2024.
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