Aumento das Mortes Causadas por um Medicamento Popular para a Ansiedade no Reino Unido

Aumento das Mortes Causadas por um Medicamento Popular para a Ansiedade no Reino Unido

Crédito: Pixaobay
Crédito: Pixaobay

Registou-se um aumento significativo de mortes relacionadas com a pregabalina, um medicamento para a ansiedade amplamente prescrito. Em 2018, registaram-se 187 mortes relacionadas com a pregabalina em Inglaterra e no País de Gales. No entanto, até 2022, este número mais do que duplicou para 441 mortes associadas ao medicamento.

A cobertura recente da mídia retratou essas mortes como indicando uma “epidemia de opióides no estilo dos EUA” causada por um medicamento que “arruína vidas”. No entanto, esta comparação carece de justiça, tendo em conta as centenas de milhares de mortes nos Estados Unidos devido aos opiáceos. Tais relatórios podem provocar desnecessariamente o pânico sobre o medicamento, particularmente entre aqueles que o prescreveram.

Uma Visão Geral dos Usos e da Aprovação

A pregabalina, comercializada sob nomes de marcas como Lyrica e Alzain, trata várias condições médicas, incluindo epilepsia, dor neuropática e ansiedade. A sua utilização foi aprovada na Europa e nos Estados Unidos em 2004.

A pregabalina possui efeitos gratificantes, induzindo sensações de euforia, tranquilidade e relaxamento. Estes efeitos podem esclarecer a razão pela qual as pessoas sem receita médica a procuram.

Embora a pregabalina, por si só, seja geralmente segura, como todos os medicamentos, tem potenciais efeitos secundários, como confusão e dores de cabeça. Existe também um risco de dependência, especialmente com o uso prolongado.

O perigo da pregabalina, quer seja utilizada como indicado ou não, surge quando é combinada com outros medicamentos com os quais interage negativamente.

Precauções e Interacções Medicamentosas com a Pregabalina

Idealmente, a pregabalina não deve ser administrada juntamente com opiáceos, certos medicamentos para dormir, benzodiazepinas (outro tipo de medicamento para a ansiedade), relaxantes musculares e até medicamentos específicos para a diabetes e epilepsia. A maior parte dos acidentes mortais associados à pregabalina resulta de interacções com outros medicamentos, que conduzem à supressão respiratória.

Um exame das mortes relacionadas com a pregabalina em Inglaterra, entre 2004 e 2020, revela que, em mais de 90% dos casos, estavam presentes outros opiáceos (como a metadona ou a morfina). No entanto, apenas um quarto destes casos envolveu opiáceos prescritos, indicando que os indivíduos provavelmente obtiveram estes medicamentos através de canais ilícitos e não de fontes médicas. Do mesmo modo, os dados não esclarecem se a pregabalina foi prescrita ou obtida sem receita médica.

Embora esta análise abranja dados até 2020, é provável que a tendência persista nas mortes recentes associadas à pregabalina.

O recente aumento do número de mortes relacionadas com a pregabalina coincide, de certa forma, com um aumento do número de pessoas a quem foi prescrito o medicamento. Só no Reino Unido, houve 8,4 milhões de prescrições de pregabalina em 2022, um aumento notável em relação aos 5,5 milhões registados em 2016.

Abordar os Riscos e Educar as Partes Interessadas sobre a Utilização da Pregabalina

Esta tendência sugere a necessidade de um apoio reforçado para mitigar os riscos dos doentes, em especial no que respeita à utilização concomitante de outros medicamentos. Tanto os prescritores como os doentes necessitam de formação sobre os potenciais perigos associados à utilização da pregabalina, incluindo o risco de dependência. É também crucial que os doentes e os prescritores compreendam os medicamentos que interagem com a pregabalina e as potenciais consequências de tais combinações.

Os prescritores devem rever regularmente as prescrições de pregabalina para garantir o bem-estar do doente, considerando tratamentos alternativos, como terapias psicológicas para a ansiedade, se necessário. No entanto, confiar apenas na educação sobre os medicamentos pode não ser suficiente, tendo em conta os medicamentos envolvidos em mortes anteriores relacionadas com a pregabalina.

Certos grupos, como os que têm um historial de perturbações relacionadas com o consumo de substâncias, enfrentam riscos elevados. As lacunas de coordenação entre os serviços de saúde mental e de tratamento da toxicodependência podem levar a interacções prejudiciais, especialmente para os indivíduos a quem foi prescrita a pregabalina para o alívio da ansiedade a curto prazo.

A utilização ilícita da pregabalina está a aumentar, sendo que os utilizadores desconhecem frequentemente os riscos quando combinada com substâncias como a metadona. Além disso, o receio de repercussões pode dissuadir os doentes de revelar o consumo de drogas ilícitas aos seus prestadores de cuidados de saúde, colocando os utilizadores ocasionais de opiáceos ilícitos em risco acrescido.

Disparidades Geográficas nas Taxas de Prescrição de Pregabalina e Impacto Socioeconómico

A investigação indica que uma maior proporção de indivíduos que residem no norte de Inglaterra recebe prescrições de pregabalina em comparação com os do sul. Além disso, os estudos associaram os padrões de prescrição de medicamentos à privação social, com os residentes das zonas mais carenciadas de Inglaterra a receberem prescrições de medicamentos como a pregabalina a taxas mais elevadas. Os indivíduos que vivem em zonas desfavorecidas podem não ter o apoio necessário para compreender os riscos associados à toma ou à combinação de determinados medicamentos, aumentando assim a sua vulnerabilidade a danos.

É essencial compreender as razões subjacentes a estas mortes para desenvolver estratégias eficazes para reduzir os danos e as mortes associadas ao medicamento. A simples interrupção das prescrições de pregabalina não é viável nem segura, dada a sua reconhecida utilidade e eficácia para muitos indivíduos. A implementação de regulamentos mais rígidos sobre a pregabalina ilícita também apresenta desafios e pode exacerbar os danos, como evidenciado pelo resultado após sua classificação como uma droga de Classe C em 2019.

Compreender as motivações por trás do uso simultâneo de pregabalina com outros medicamentos, prescritos ou não, é vital para uma intervenção significativa.


Leia O Artigo Original: Science Alert

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