Novo Estudo Confirma que Cientistas Ainda não Conseguem Explicar a Consciência

Crédito: Pixabay
Há um ditado que diz que teorias são como escovas de dente — todo mundo tem uma, mas ninguém quer usar a de outra pessoa. É uma brincadeira , mas quando se trata de estudar a consciência — o mistério de como vivenciamos qualquer coisa subjetivamente —, é surpreendentemente preciso.
Em 2022, o neurocientista britânico Anil Seth e eu compilamos uma revisão identificando 22 teorias da consciência baseadas no cérebro. Em 2024, o intelectual público americano Robert Kuhn, usando uma abordagem mais ampla, havia contabilizado mais de 200.
Nesse contexto, a revista Nature publicou os resultados de uma “colaboração adversarial” liderada pelo Consórcio Cogitate, examinando duas teorias importantes: a teoria do espaço de trabalho neuronal global e a teoria da informação integrada.
Debates Acirrados e Respostas Elusivas na Ciência da Consciência
Com inúmeras teorias em circulação e um tema notoriamente difícil de definir, testar ideias sobre a consciência tem se mostrado extremamente difícil. Os debates entre os defensores de diferentes teorias têm sido frequentemente intensos — e ocasionalmente hostis.
Em 2023, as tensões atingiram o auge após o anúncio preliminar dos resultados, agora oficialmente publicados pela Cogitate. Dezenas de especialistas assinaram uma carta aberta alegando que a teoria da informação integrada não era apenas incorreta, mas também carecia completamente das qualidades de uma teoria científica.
Apesar dos desafios, a teoria do espaço de trabalho neuronal global e a teoria da informação integrada continuam sendo duas das “quatro grandes” estruturas principais no discurso atual sobre a consciência. (As outras duas são as teorias de representação de ordem superior e a teoria da reentrada local — ou recorrência.)
Embora difíceis de condensar, ambas as teorias vinculam a consciência à atividade neural que ocorre em várias regiões do cérebro.
Os defensores dessas duas teorias, juntamente com vários pesquisadores independentes, desenvolveram previsões baseadas em cada teoria sobre os padrões de atividade cerebral provavelmente ligados à consciência.
Teoria da Informação Integrada: Sincronização no Córtex Posterior
O grupo concordou que a teoria da informação integrada sugere que a percepção consciente envolve sincronização e atividade contínuas no córtex posterior do cérebro.
Em contraste, a teoria do espaço de trabalho neuronal global propõe que a “ignição neural” ocorre tanto no início quanto no fim de um estímulo. Além disso, ela prevê que a experiência consciente de uma pessoa deve ser decodificável a partir da atividade no córtex pré-frontal.

Crédito: Alerta Ciência
Essas hipóteses (juntamente com outras) foram testadas por equipes “neutras em teorias” de todo o mundo.
Os resultados foram inconclusivos. Algumas descobertas corroboraram as previsões de uma ou mais teorias, enquanto outras apresentaram desafios.
Por exemplo, a equipe não observou a sincronização sustentada no córtex posterior que a teoria da informação integrada havia previsto. Além disso, a teoria do espaço de trabalho neuronal global enfrentou desafios, pois nem todos os conteúdos conscientes puderam ser decodificados do córtex pré-frontal, e nenhuma ignição neural foi detectada quando o estímulo foi introduzido pela primeira vez.
Um Passo à Frente para a Ciência: Avanço na Testagem de Teorias na Pesquisa da Consciência
Embora este estudo não tenha proporcionado uma vitória clara para nenhuma das teorias, foi uma vitória significativa para a ciência. Ele marca um avanço notável na forma como a comunidade de pesquisa da consciência aborda a testagem de teorias.
É comum que pesquisadores busquem evidências que sustentem suas próprias teorias. No entanto, a extensão desse viés na ciência da consciência só se tornou evidente em 2022, com a publicação de um artigo fundamental por vários pesquisadores do Consórcio Cogitate. O artigo demonstrou que era possível prever qual teoria da consciência um estudo apoiaria, com base apenas em seu delineamento.
A maioria das tentativas de “testar” teorias da consciência foi realizada por proponentes dessas mesmas teorias. Como resultado, muitos estudos se concentraram mais em confirmar teorias do que em identificar falhas ou tentar refutá-las.
Alcançando Consenso: Concordando em Previsões Testáveis para Teorias Concorrentes
O primeiro sucesso dessa colaboração foi conseguir que teóricos concorrentes concordassem em previsões testáveis para ambas as teorias. Isso foi particularmente desafiador, visto que tanto o ambiente de trabalho global quanto as teorias da informação integrada são formuladas em termos altamente abstratos.
Outra conquista foi a realização dos mesmos experimentos em diferentes laboratórios, o que se mostrou difícil, visto que esses laboratórios não eram dedicados às teorias testadas.
Durante as fases iniciais do projeto, a equipe buscou orientação do psicólogo israelense-americano Daniel Kahneman, o pioneiro do conceito de colaborações adversariais em pesquisa.
Kahneman observou que é improvável que os resultados mudem a opinião de alguém, mesmo que apoiem fortemente uma teoria em detrimento de outra. Ele enfatizou que os cientistas tendem a permanecer fiéis às suas teorias e a se apegam a elas, apesar das evidências contrárias.
Os Benefícios Potenciais da Teimosia Irracional no Progresso Científico
Esse tipo de teimosia irracional pode parecer problemático, mas não precisa ser necessariamente. Com os sistemas certos em vigor, ela pode realmente contribuir para o progresso científico.
Como ainda não sabemos qual teoria da consciência é mais provavelmente a correta, a comunidade científica deve abordar o tema de múltiplas perspectivas.
A comunidade científica precisa de mecanismos de autocorreção. No entanto, pode ser benéfico para cientistas individuais permanecerem comprometidos com a teoria escolhida e continuarem trabalhando dentro dela, mesmo diante de resultados desafiadores.
O Desafio de Compreender a Consciência: Métodos Atuais vs. Mudanças Potenciais
A consciência é um desafio difícil de resolver. Ainda é incerto se os métodos atuais de estudo da consciência serão eficazes ou se precisaremos de uma mudança fundamental em nossos conceitos ou abordagens (ou possivelmente ambos).
O que é certo, porém, é que, para desvendar o mistério da experiência subjetiva, a comunidade científica deve adotar um modelo de pesquisa colaborativa.
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