Tecnologia de Aceleradores de Partículas do CERN Trata agora Tumores Cerebrais
Passando de colossais aceleradores de partículas de 26 km para salas de operações para cirurgias cerebrais, um detetor de partículas inicialmente concebido por físicos do CERN é agora utilizado por investigadores na Alemanha para aumentar a precisão e a segurança dos tratamentos de tumores cerebrais.
A eliminação de tumores na região da cabeça e do pescoço pode parecer simples: administrar produtos químicos apropriados ou aplicar radiação suficientemente potente. No entanto, o desafio consiste em erradicar as células cancerígenas preservando o bem-estar do doente.
Aproveitar os Feixes de Iões para o Tratamento de Tumores
Um método eficiente para tratar estes tumores envolve a utilização de feixes de iões. Ao acelerar as partículas carregadas a velocidades que atingem três quartos da velocidade da luz, podem penetrar nos tecidos vivos até 30 cm de profundidade. Para proteger as células saudáveis, a abordagem convencional implica mover o projetor de iões ao longo de um percurso curvo com o tumor posicionado no ponto focal. Consequentemente, o tumor recebe um bombardeamento contínuo, minimizando a exposição dos tecidos saudáveis.
O método convencional é eficaz mas não é perfeito, especialmente em casos de tumores cerebrais. Existe o risco de expor células saudáveis próximas à radiação secundária do feixe de iões, o que pode levar a uma potencial perda de memória, danos no nervo ótico e outras complicações.
Para atenuar este risco, são utilizados exames de tomografia computorizada (TC) de raios X para identificar com precisão a localização do tumor para o planeamento do tratamento. No entanto, os exames pré-operatórios podem ser imprecisos devido ao movimento do cérebro dentro do crânio.
Utilização de Tecnologia de Imagiologia Avançada para Aumentar a Precisão do Tratamento
Para enfrentar este desafio, investigadores do Centro Nacional Alemão de Doenças Tumorais (NCT), do Centro Alemão de Investigação do Cancro (DKFZ) e do Centro de Terapia de Feixe de Iões de Heidelberg (HIT) do Hospital Universitário de Heidelberg utilizaram um novo dispositivo de imagiologia desenvolvido pela empresa checa ADVACAM. Este dispositivo incorpora a tecnologia do detetor de píxeis Timepix3, originalmente desenvolvida no CERN.
Concebido para funcionar tanto com detectores semicondutores como com detectores cheios de gás, o Timepix3 é um circuito integrado versátil capaz de processar dados de deteção esparsos e fornecer rapidamente resultados de alta resolução. Isto permite que o ADVACAM utilize a radiação secundária do feixe de iões para atualizar os mapas dos tecidos, empregando a radiação como um sinal de rastreio.
“As nossas câmaras conseguem captar todas as partículas carregadas emitidas pelo corpo do doente”, explicou Lukáš Marek da ADVACAM. “É como observar a dispersão das bolas de bilhar depois de uma tacada. Se a trajetória da bola estiver alinhada com a imagem da TAC, confirmamos a precisão do alvo. Caso contrário, isso indica um desvio do ‘mapa’, levando à necessidade de reavaliação do tratamento”.
Melhorar a Precisão do Alvo do Tumor, Minimizando a Exposição do Doente à Radiação
O objetivo é aperfeiçoar a orientação do tumor e minimizar a exposição involuntária do doente à radiação, fornecendo níveis elevados de radiação precisamente ao tumor.
Atualmente, o detetor necessita de uma interrupção do tratamento para um novo planeamento. No entanto, as fases futuras do programa permitirão correcções da trajetória do feixe em tempo real.
“Quando iniciámos o desenvolvimento de detectores de píxeis para o LHC, o nosso principal objetivo era detetar e obter imagens de cada interação de partículas, ajudando os físicos a desvendar os mistérios da Natureza a altas energias”, comentou Michael Campbell, porta-voz da Medipix Collaborations.
“Os detectores Timepix, desenvolvidos pelas colaborações multidisciplinares Medipix, visam alargar esta tecnologia a novos domínios. Esta aplicação exemplifica o potencial imprevisto da tecnologia”.
Leia O Artigo Original: New Atlas