A Canábis Pode Oferecer uma Via de Saída da Toxicodependência
Estudos recentes revelam que os consumidores regulares de metanfetamina cristalina que integraram a canábis na sua rotina para reduzir os desejos tendem a diminuir o seu consumo do estimulante, sobretudo entre as mulheres. Estes resultados indicam o potencial de uma nova abordagem de redução de danos entre os indivíduos envolvidos no consumo de drogas ilícitas.
Persiste o debate entre os investigadores sobre a questão de saber se a cannabis actua como uma “droga de passagem”, facilitando a transição para substâncias mais perigosas. Para responder a esta questão, um estudo realizado pela Universidade da Colúmbia Britânica (UBC), no Canadá, investigou o impacto da utilização da canábis para atenuar os desejos no consumo de estimulantes ilícitos por parte de um indivíduo.
A Canábis como Instrumento de Redução de Danos para Gerir o Consumo de Estimulantes
“As nossas descobertas, embora não sejam definitivas, contribuem para o aumento das provas científicas que sugerem que a canábis pode oferecer benefícios para os indivíduos que procuram um melhor controlo do seu consumo de estimulantes não regulamentados, em especial os que consomem metanfetaminas”, observou Hudson Reddon, o autor principal e correspondente do estudo.
O termo “drogas não regulamentadas” engloba medicamentos produzidos legalmente, mas desviados dos canais de distribuição autorizados, bem como substâncias fabricadas e vendidas ilicitamente, como a metanfetamina cristal, a cocaína e a heroína.
O estudo recrutou 297 adultos consumidores de drogas não regulamentadas que tinham comunicado o consumo de canábis e de estimulantes nos seis meses anteriores. Os participantes tinham uma idade média de 44 anos, sendo que as mulheres constituíam 31,3% da amostra. Quase metade (48,8%) referiu o consumo diário de canábis, tendo 45,1% consumido canábis para aliviar o desejo de consumir estimulantes. Outros motivos comuns para o consumo de canábis foram o controlo dos desejos de opiáceos não regulamentados (25,6%) e o controlo da dor (17,8%). O método predominante de consumo de canábis foi o tabagismo (97,3%), seguido dos comestíveis (43,8%) e dos concentrados (21,9%).
Impacto do Consumo de Canábis no Consumo de Estimulantes
O consumo de cannabis para aliviar os desejos de estimulantes e o consumo diário de cannabis correlacionaram-se significativamente com a diminuição da ingestão de estimulantes durante os períodos de consumo de cannabis. O consumo de cannabis para gerir os desejos de estimulantes foi significativamente associado a uma redução do consumo de metanfetaminas entre os consumidores diários, mas não a uma diminuição do consumo de cocaína. Além disso, as mulheres estavam significativamente mais inclinadas a relatar a diminuição do consumo de metanfetaminas durante os períodos de consumo de canábis.
“Isto implica uma nova abordagem das estratégias de redução de danos entre os consumidores de droga”, concluiu Reddon.
No entanto, os resultados do estudo necessitam de ser mais explorados, especialmente devido à falta de intervenções farmacológicas estabelecidas para o tratamento de perturbações relacionadas com o consumo de estimulantes.
“Embora estes resultados sejam promissores, salientam a necessidade de uma investigação mais aprofundada para compreender plenamente o potencial da canábis no contexto da crise das overdoses”, observou Zach Walsh, coautor do estudo.
De acordo com um relatório publicado na conceituada revista médica The Lancet em 2022, cerca de 600 000 pessoas sucumbiram a overdoses de opiáceos nos Estados Unidos e no Canadá nas últimas duas décadas. As projecções indicam que, em 2029, este número poderá aumentar para 1,2 milhões de mortes só nestes dois países, sublinhando o impacto global da crise dos opiáceos.
Leia O Artigo Original: New Atlas
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